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terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Vivendo comigo


Desde muito nova eu frequento a terapia, análise como quiserem chamar. Nunca me preocupei com o tipo de análise e sim se me ajudava ou não. Se eu crescia ou não. Alguns eu saí por questões da vida outros por não me adaptar mesmo. Havia fases que eram “insights” dia após dia e fases que parecia mais um momento de conversa, filosofia. Mas sempre amei. Não, não sou maluca. Mas acumulei frases, conselhos (raros por que terapeutas não são de opinar), exemplos de vida que me enriqueceram muito. Com essa bagagem me sinto mais forte na caminhada da vida, para lidar comigo mesmo e com as pessoas. Desenvolvi uma facilidade de interpretar as pessoas, que me ajuda, quando quero ME OUVIR, a me proteger.

Sempre tive um jeito “muito singular” de pensar e de ver a vida. Quando digo singular não considero melhor. Sei que cada um tem seu próprio jeito de pensar (por isso as aspas), mas acredito que existam pessoas com mais facilidade para lidar com as questões cotidianas, que outras. Mais adaptáveis ao mundo em que vivem. O que não é o meu caso. Admiro profundamente essas pessoas que “sabem viver”. Eu nunca soube. Sempre fiquei entre o “saber viver” ou “ser eu”. Que por algum motivo não estava alinhado. Era um ou outro.

Aliás acredito que essa seja uma das questões cruciais da minha vida. Hoje mais velha posso ver que por algum motivo achava que ser autêntica seria ser do contra. Quando diziam que eu tinha “personalidade forte” me enchia de força para ser mais do contra ainda. Muito simples... Por que do contra? Por que nunca senti que fazia parte do social aprovado e esperado. Simplesmente não era meu mundo. Fui gordinha, agitada, brincalhona (até demais), estudiosa mas assumia que detestava, e por aí vai... Então eu me convencia que não me importava e não queria. Afinal “aquilo” não era para mim. E assim fui crescendo buscando meu valor pelas margens.

Mas... pra você definir o que é margem, você precisa definir o centro. Logo, meu foco por anos foi o que eu acreditava que eu NÃO poderia ser, para tentar ser qualquer outra coisa. Então de repente a menina “do contra” passa a prestar mais atenção naquilo que talvez ela gostaria de ser e não o que ela era. Quanta confusão.

Toda vez que tiramos o olho que nós mesmos para colocar em outra pessoa perdemos nosso referencial.

Uma das pessoas que mais marcou minha vida e já se foi dizia “ O inimigo é tudo aquilo que nos faz tirar o foco de nós mesmos”. Nossa já tive tantos inimigos. Acredito que todos temos. Seja ele amigo, namorado, marido, trabalho, sociedade.... Tudo que nos demanda além do que somos capazes de dar a nós mesmos.

E hoje diante dessa confusão optei por ser eu. Não ser mais do contra, nem do a favor, nem disso nem daquilo. Mas "ser eu"significa o que? Como é difícil criarmos os nossos PRÓPRIOS referenciais. Nossos gostos, nossas vontades, nossas expectativas. Gostar do que a sociedade aprova diz que é bom, ou pelo menos fingir que gosta é fácil... Mas e gostar daquilo bem peculiar que preenche sua alma, mas que ninguém que você conhece gosta, ou mais difícil ainda, NÃO gostar daquilo que todo mundo ama??? Isso é ser você. Mas estamos tão poluídos de informação, de opinião, de preconceitos que faz barulho na cabeça e não conseguimos ouvir a nossa voz.

É trabalhoso mas vou, passo a passo, tentando descobrir o que eu sou. Algumas vezes vou concordar com o gosto comum, outras não. Vou ser previsível, imprevisível ... O que quer que seja. Mas "do contra" não vou ser mais. Por que afinal não preciso ser contra ninguém. O foco é ser “a favor de mim”.

Poema de sete faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus,
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

4 comentários:

  1. Hi, My name is Dzung from Viet Nam .I really love :) sorry my English

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    1. Hi Dzung thank you for your feedback. It is very important for me...

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  2. Parabéns pelo artigo é bem bacana valeu!

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